terça-feira, 6 de julho de 2010

TAMANHO É DOCUMENTO

O sírio Jacob Demes tinha o hábito de cultivar boas amizades. Tinha um círculo de amigos grande, mas rendia atenção especial ao patrício Gabriel Zarur.
Jacob tinha o coração manso e sereno, mas Gabriel tinha o espírito alegre e brincalhão. Passavam muito tempo livre juntos, sempre buscando algo que lhes desse algum entretenimento. Gostavam de caçar e pescar um na companhia do outro, por exemplo.
As pescarias eram muito freqüentes nas Floriano dos anos 40, 50 e 60. O Clube de Regatas, que fica(va) nas proximidades do sítio Mirilândia, recebia os mais ilustres expoentes sociais da Princesa do Sul em alegres piqueniques, competições de regatas e, eventualmente pescarias.
O Rio Parnaíba ainda não tinha sido tão desgastado e corroído como está hoje, de modo que ainda contribuía com peixes grandes e em bom número. O banho era também muito refrescante. Havia diversas árvores frutíferas na beira do rio, que incluía mangas, goiabas, cajás, cajus, umbus, etc. A meninada fazia a festa. Atravessavam o rio em bóias feitas com câmaras de ar de pneus de trator ou de caminhão. Por outro lado, o rio era implacável: muitos incautos morreram afogados nas águas do Velho Monge.
Só mais recentemente é que as pescarias foram transferidas para a região do balneário da Manga, pois os piaus e os surubins ficaram mais raros nas proximidades da cidade.
Gabriel Zarur e Jacob Demes, por sua vez, eram muito partícipes dos movimentos sociais de Floriano. Para caçar, preferiam as proximidades do rio Itaueira, mas para pescar, sem dúvida, a beira do rio Parnaíba era melhor. Foram, certa feita, para a região que fica pouco depois do Regatas e armaram um modesto acampamento de pesca.
Começaram a jogar anzol, mas o rio não estava cooperando com os dois carcamanos. Nem piabinha eles conseguiam tirar da água. Tentaram com isca de borra de coco babaçu, com isca de cuscuz, fiapo de carne, minhocas e nada de vir peixe.
Jacob, sem reconhecer a própria imperícia na caça e na pesca, reclamou do patrício:
― Gabriel, você dá azar! Toda vez que eu vou caçar e pescar com você eu não consigo pegar nada.
O companheiro entendeu a pilhéria e pensou em contar vantagem. Decidido e demonstrando muita convicção, jogou uma pra cima de Jacob:
― Compadre, certa vez eu vim pescar sozinho aqui no Regatas e pesquei um piau de uma braça! Devia pesar uns cinqüenta quilos! Um verdadeiro peixão!
Jacob digeriu a conversa fiada entrando no clima fantasioso:
― Pois eu vim pescar uma vez sozinho. Já estava tarde e logo ficou escuro. Resolvi não desistir de pescar. Quando ficou escuro mesmo, joguei a linha mais ou menos no meio do rio. Compadre, um milagre aconteceu. Eu consegui pescar um lampião aceso! Saí do sufoco da escuridão que nem o Aladin!
Gabriel tirou o chapéu por um momento e coçou a cabeça. Tornou a colocar o chapéu e disse maliciosamente:
― Mas Jacob, pescar um lampião aceso é meio difícil!
O bom Jacob sorriu do patrício, ajeitou a isca no anzol, jogou a linha mais uma vez, e disse triunfante:
― Gabriel, pois você diminua o tamanho do seu peixe que eu apago o meu lampião!

2 comentários:

  1. Pescaria fraquinha, salomão, mas de humor gigante.

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  2. Eu curiosamente pesquisei sobre o Jacob Demes quando me deparei com o seu blog e achei interessante isso porque pensar em escrever sobre os ancestrais é algo que muitos não pensam em fazer. E torna-se difícil encontrar pesquisas de .Floriano Obrigada

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